terça-feira, 16 de abril de 2013

ORIXÁS E A QUARESMA


A dúvida sobre o funcionamento das casas de santo (os terreiros de umbanda) durante o carnaval e a quaresma, vem da época que os Orixás eram proibidos de serem cultuados e deveriam ser sincretizados com os santos católicos. Como o período da quaresma corresponde a uma época de reclusão e reflexão dentro da igreja católica, muitos terreiros de umbanda e candomblé ficavam em uma posição delicada junto a comunidade católica e fechavam as portas para não terem problemas com as autoridades locais e com as pessoas em geral, quando poderiam ser acusados de desrespeitosos com a religião católica. As pessoas consideravam que as casas de santo não deveriam bater tambores ou praticar qualquer ritual na quaresma, a exemplo da igreja católica que deixa suas imagens cobertas por mantos de cor roxa em sinal de respeito, onde os cristãos se recolhem em oração e penitência para preparar o espírito para a acolhida do Cristo vivo. 
Em alguns terreiros nesta época é praticado o Lorogum ou Olorogum, que significa “ritual de guerra”: oro (ritual) + ogun (guerra). É uma obrigação que determina um período sem festas nos terreiros de umbanda e candomblé, pois os Orixás estão em guerra, e também serve para definir o período para descanso coletivo. O mesmo acontece propositadamente no período da quaresma católica, logo depois do carnaval, terminando no sábado de aleluia (primeiro sábado da lua cheia), marcando o final e o início do ano litúrgico (ano novo) para o povo do santo. No Lorogum não acontece sacrifício animal, embora seja  oferecida comida ritual não só aos santos, mas à todos os participantes, servidos diretamente por todos os Orixás do terreiro. Os presentes dividem-se em dois grupos: o exército de Xangô, onde todos trajam vermelho e branco e carregam uma bandeira vermelha, e o exército de Oxalá, com todos os membros vestidos de branco, portando uma bandeira branca. Tudo começa com uma procissão dos 2 grupos percorrendo os quartos de Santo até o barracão, reproduzindo a viagem pelas cidades de cada divindade. Na sala, cada exército se coloca de um lado, sendo que os mais velhos portam cada qual seu estandarte. Todos os Orixás carregam ixãns (varas de amoreira) e suas folhas sagradas. Com a autorização do Babalorixá, os dois grupos se aproximam e passam bater os ixãns e as folhas em todos os presentes (inclusive Orixás com Orixás) formando um verdadeiro alarido, dando uma impressão de briga ”guerra” que é interrompida com a manifestação de Oxalá, imediatamente tudo volta a calmaria e todos dançam sob um grande alá (pano branco), os cânticos sagrado deste Orixá da paz. 
Porém não existe conotação analógica do fato de Cristo (católico) estar morto e os Orixás, visto que a feitiçaria maléfica pode ser feita em qualquer época, dia ou horário e que pelo fato dos Orixás 'serem mandados a guerra' não muda em nada, pois os mesmos nos amparam, cuidando-nos sempre. Devemos nos lembrar que estes são rituais católicos e não pertencem a nossa religião. As casas de santo não precisam parar suas atividades durante a quaresma e podem funcionar normalmente, pois não estão ligadas aos dogmas da igreja católica que determinam que não se possa fazer atendimento espiritual nessa ocasião.

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